sábado, 20 de novembro de 2021

“A Guerra Não Convencional na Era Globalizada”

| por: Jorge Autié González


O sucinto artigo de Jorge Autié González, publicado pela Universidade de Ciências Informáticas (UCI) de Havana/Cuba, é suficientemente cirúrgico e preciso para remarcar um tema que abordamos com frequência, ou seja, como a digitalização provocou uma nova Revolução nos Assuntos Militares (RAM). No caso do império norte-americano, atingir objetivos militares por meios não militares se tornou pelo menos há três décadas menos uma opção tática, e muito mais uma estratégia para fins de interferência em países soberanos governados por grupos políticos considerados hostis pelos EUA. Embora Autié não trabalhe com o conceito de Guerra Híbrida, sua brilhante crônica nos remete ao assunto. Posto que o tema foi objeto do meu estudo de caso sobre a situação brasileira. Das malfadadas “Jornadas de Junho de 2013” , o golpe jurídico/parlamentar contra a presidente Dilma em 2016, o arbítrio contra o ex-presidente Lula e a eleição da escória bolsonarista em 2018. Tudo indica que novos capítulos estão sendo urdidos pelos suspeitos de sempre. A frente progressista e democrática unida em torno da candidatura de Lula para as eleições presidenciais do próximo ano, precisa estar muito atenta a tudo!





“A Guerra Não Convencional na Era Globalizada”


| por: Jorge Autié González



Uma operação militar “moderna” - em situações de combate “quente”, ou, não  - deve ser concebida com o apoio das tecnologias da informação e da comunicação. Computadores, tablets, celulares e telefones via satélite, conexões sem fio, apenas para citar os meios de comunicação mais conhecidos, fazem parte do arsenal de guerra na era digital.

O ciberespaço tornou-se um novo cenário de batalha, onde as lutas são travadas dia a dia, embora só às vezes os jornais saibam e as câmeras de televisão captem o brilho das explosões.


Como “tiros” cibernéticos


Nesta nova dimensão da guerra, um simples programa malicioso (mallware) contra um adversário desavisado pode causar tantos danos quanto uma bomba, e superá-la em velocidade e alcance. Como balas de franco-atirador, os tiros têm alvos bem definidos: o coração dos sistemas de computador do adversário e os cérebros de seus cidadãos e soldados.

A guerra não convencional também é travada no ciberespaço. Segundo os manuais do comando militar dos Estados Unidos, as primeiras fases de uma operação deste tipo visam recrutar, organizar e treinar seguidores, para os quais as tecnologias da informação e da comunicação (TIC) constituem um suporte ideal. Isso é corroborado por suas possibilidades de gerenciar mensagens em forma de dados, voz ou imagem, em prazos muito curtos e a grandes distâncias.

Para desenhar essas campanhas de “bombardeio de informação ou nova geração”, seus planejadores desenvolvem estudos sobre os públicos contra os quais suas mensagens são dirigidas, os quais, exceto no conteúdo, pouco diferem daqueles que qualquer empresa moderna faria para promover ofertas, sempre buscando satisfazer necessidades e preferências e, ainda, buscar criar a ideia de que o que é desnecessário é necessário.

O foco está nos jovens, força motriz de todas as sociedades. Eternos apaixonados pelas tecnologias e dotados de habilidades únicas para entendê-las, eles constituem a esmagadora maioria dos usuários das redes sociais. Mas, como em todas as obras humanas, via de regra se misturam "o sublime e o trivial", uma combinação ideal para a consecução de interesses políticos daqueles que almejam confundir e enganar.

Anulando as razões do agredido


Um dos mais fidedignos exemplos desta estratégia comunicacional foi expressa no livro A Arte da Inteligência, escrito em 1963, pelo tristemente célebre ex-diretor da CIA, Allan Dulles. O sinistro autor, por sua vez, demonstrava  o modo “não convencional” que os Estados Unidos deveriam desenvolver para - sem empregar sua maquinaria de guerra militar - corroer “por dentro” o socialismo da então União Soviética (URSS). Dizia Dulles: 

“…Substituiremos seus valores – sem que percebam – por valores falsos, e os obrigaremos a acreditar neles (...) A literatura, o cinema, e o teatro deverão refletir e enaltercer os mais baixos sentimentos humanos (...) A honradez e a honestidade serão ridicularizadas e apresentadas como desnecessárias, convertidas em vestígios de um passado remoto...”

Hodiernamente nada mudou no que concerne aos objetivos estratégicos imperiais em anular as “razões do agredido” e promover as do agressor, pouco a pouco, sutilmente, até que chegue o momento apropriado de uma ação mais ousada contra uma sociedade independente e um governo considerado hostil aos EUA . Nada de grandes consignas políticas quando o estado da arte da comunicação digital permite lançar mão de mensagens personalizadas breves e contagiosas, por meio de plataformas como, por exemplo, o whatzap e seu largo alcance junto a massa de cidadãos incautos. 

Desse modo, aqueles que comandam uma operação de guerra nesses termos exploram as tecnologias digitais para influenciar cidadãos com pouco senso crítico, ou, mesmo, ingênuos e incautos. De um só golpe no teclado e a velocidades que competem com a da luz, transmitem mensagens de um extremo a outro do planeta e em qualquer idioma, “orientando” cidadãos a seguirem instruções para a organização de grupos opositores, até o requinte da elaboração de consignas sedutoras para determinado público alvo. Desse modo fazem transitar mensagens de textos, imagens e vídeos que – dentre outras - ensinam a produzir um panfleto caluniador ou banner eletrônico ofensivo, até o modo de utilizar um fuzil, ou, fabricar bombas artesanais e objetos incendiários.

Se o adversário objeto dessas ações não está prevenido e firme em suas convicções e possibilidades, o uso das tecnologias de comunicação digitais como substitutas das velhas formas de fazer a guerra, podem produzir consequências demolidoras, desatar reações em cadeia e obter efeitos multitudinários. Esse é o fenômeno que empresta o enorme dinamismo que caracteriza as ações na nova dimensão da guerra. 

Contudo, por mais que o império norte-americano se empenhe para atingir objetivos militares por meios não militares, a mente humana não logrou inventar a arma infalível. Ainda que os Estados Unidos disponham de grandes empresas que oferecem serviços de internet e outros tipos de comunicação em nível mundial, o processo globalizador expôs esse país de tal maneira que seus governantes não foram poupados de enormes desgastes e ameaças.

São inúmeros os exemplos e efeitos indesejados pelo império agressor do emprego das tecnologias digitais. Paradoxalmente, a mesma telefonia móvel que em 2003, foi empregada para chantagear os chefes militares iraquianos, “convidando-os“ a desertarem, abriu uma janela para o mundo tomar conhecimento dos desmandos e assassinatos  do invasor contra civis e crianças iraquianas inocentes, ou, o inferno a que submetiam prisioneiros em cárceres secretos. A mesma tecnologia ainda serviu para detonar artefatos explosivos contra o exército invasor. 

Foram também as novas tecnologias da informação e da comunicação que possibilitaram ao governo norte-americano espionar sem distinção a amigos e inimigos. Por outro lado, e,  ao mesmo tempo, por conta dos meios digitais foram oportunizados ao Wikileaks a revelação das atrocidades e dos escândalos protagonizados por militares norte-americanos no Iraque, ou, as denúncias de espionagem de cidadãos por seu próprio governo desatadas pelo ex-analista da Agencia Nacional de Segurança (NSA), Edward Snowden. 

A moral é simples e o refrão é antigo: “Quem semeia ventos...”
(Tomado de Cubadefensa)



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