terça-feira, 2 de março de 2021

Bolsonarismo e Barbárie: Etapa Superior da Guerra Híbrida



A gravura é de Caronte, o barqueiro. Segundo a mitologia grega, Caronte conduzia os mortos pelo rio
Arconte (Rio da Dor). Qualquer semelhança entre Caronte e o inominável presidente não é mera coincidência.


"Prezados amigos, prezadas amigas, 

A  pandemia do Covid-19 nos impactou como a um Tsunami no início de 2020! 

Além do séquito de mortes e contágios numa escala monstruosa em nosso País, nossos projetos pessoais sofreram avarias, restrições e paralisações temporárias ou permanentes. Comigo não foi diferente.

Tive que fazer opções e privilegiar os cuidados daqueles que dependem de minha atenção e proximidade. 

Para complicar temos um governo genocida que faz do vírus um aliado do seu projeto necropolítico. Os tempos são duríssimos, mas como o magistral poeta russo, Maiakovsky, "devemos arrancar esperanças do futuro!"

Sendo assim, pretendo dar prosseguimento as publicações no meu modesto Blog, com o fito de contribuir no que for ao processo permanente de reflexão sobre temas de política internacional e nacional.

Desejo a todos e todas que se cuidem e que nos somemos à luta por Vacinação Já, e, obviamente, Fora Bolsonaro!

Forte abraço e boa leitura!"




Bolsonarismo e Barbárie: Etapa Superior da Guerra Híbrida


Em 2019 fiz o lançamento do livro “Guerra Híbrida Contra o Brasil” , pela editora LiquidBook[1].   A obra foi uma tentativa de explicar a forma contemporânea de interferência (Guerra Híbrida) do imperialismo norte-americano e associados para fins de destruição de países considerados hostis aos seus interesses. O mote do livro foi o caso brasileiro onde inferi que havia um nexo entre as ditas “Jornadas de Junho de 2013”, o golpe parlamentar que derrubou o governo Dilma em 2016, a prisão ilegal do ex-presidente Lula e a eleição de Bolsonaro em 2018. Na introdução sugeri que havia um método que implodiu a frágil democracia brasileira; “A eleição contestada de Jair Bolsonaro para a presidência do Brasil não foi um fenômeno isolado e muito menos surpreendente. A rigor, se tratou do estágio avançado de um modelo pré-concebido de golpe de estado ou, se quisermos, de contrarrevolução. A eleição do candidato de extrema-direita foi uma continuidade de uma sucessão de eventos que somente na aparência sugere independência e desconexão. Houve um fio condutor que uniu todas as pontas e conferiu ao conjunto da obra uma sinistra narrativa. O método na loucura que criou as condições para a eleição de Bolsonaro foi a Guerra Híbrida.”(FREITAS; 10)

Entrementes, nesses nossos caóticos dias não são poucos os cidadãos que questionam; “como chegamos nisso”? Ou seja, como desembocamos nessa distopia do (des)governo Bolsonaro.  Penso que seria mais produtivo ampliar o questionamento. Isto é, a quem interessa transformar o Brasil num arremedo de nação, presidido pela “lei do mais forte”, com um estado mínimo para a maior parte da sociedade e num País vassalo, ou, pária internacional? 

Creio que atualmente vivemos uma espécie de fase superior da Guerra Híbrida contra o País, por conta da derrocada de uma nação em direção à barbárie. A pandemia da Covid-19 funciona como catalizadora dessa senda de infâmias, desgraças e tragédias. A mortandade de mais de 250.000 mil brasileiros pela doença com a cumplicidade e inação do Ministério da Saúde[2] , é mais do que um evidente atestado da opção pelo aprofundamento do caos, no caso na área sanitária. Bolsonaro e sua gang de generais entreguistas e vassalos são os “agentes internos” desse processo necropolítico, com as bênçãos dos grandes meios de comunicação e dos setores hegemônicos das classes empresariais sabujas, que sustentam a destruição do setor público, das suas estatais e da retirada dos parcos direitos trabalhistas e previdenciários da maioria da população para fins de um “capitalismo de espoliação”. 

Recentemente um dos gestores do caos nacional, o banqueiro Paulo Guedes, (des) ministro da economia, perorou entre outras asneiras que “...é necessário retirar o estado do cangote do povo brasileiro...”[3]  Tirante o cinismo e perversão de Guedes, a assertiva é modelar para fins de consecução do modelo de uma sociedade hobbesiana e neoliberal sonhada pelos neofascistas de turno. Obram para fazer retroceder o País ao mais primitivo “estado de natureza”, que consiste na luta de todos contra todos para fins de “darwinismo social”, isto é, a supremacia dos mais poderosos e aquinhoados. 

À rigor o bolsonarismo pode vir a ser definido como uma espécie de passaporte político para a barbárie. A barbárie é a anomia parcial ou absoluta numa determinada formação social. Trata-se de uma sociedade sem qualquer regulação e que atende aos preceitos mais caros dos defensores do neoliberalismo, isto é, a ausência da mediação estatal. Ausência sobretudo nas áreas responsáveis pelo desenvolvimento de um País e de apoio para a efetivação de direitos sociais previstos nas constituições (trabalho, saúde, educação e segurança) de qualquer nação civilizada. A barbárie é o estado mínimo e precarizado para as classes populares. É o reino das milícias, de um exército corrupto e de um judiciário em boa parte torpe e de classe. Os fautores da barbárie obram por uma  estrutura “semi-estatal/policial” a serviço do extermínio dos “inservíveis”, dos pobres, da normalização de modalidades de trabalho escravo e da generalização absurda dos baixos rendimentos. Trata-se de uma forma sócio-estatal sem soberania alguma e vassala do império de plantão.

Dos antigos gregos podemos tomar emprestado a noção de kakistocracia para auxiliar à compreensão do bolsonarismo como forma de governo. Kakistrocracia é o governo dos elementos mais degradados que uma sociedade pode produzir. O governo Temer foi uma espécie de kakistocracia “branda”, comparada ao modo “hard” do bolsonarismo. Mas talvez sejam a tragédia e mitologia dos nossos ancestrais da Hélade (Grécia Antiga), que nos forneçam no plano da imaginação um descortimento mais representativo da desgraça do bolsonarismo. Alcunhado de “mito” por sua turba, bem que Bolsonaro se compara ao mito de Caronte, que é o balseiro fétido e maltrapilho do submundo que conduz os mortos através do rio Aqueronte, que significa “rio da dor”. Caronte era filho da deusa Nix, filha do Caos. Perfeito! A kakistocracia bolsonarista é o fruto podre do caos desatado sobre o Brasil a partir das “jornadas de junho de 2013”. As “Guerras Híbridas” imperiais são exatamente isso. A instrumentalização do caos institucional, político e social para a consecução dos objetivos do império anglo-americano de dominação e subjugação de nações e povos. Para isso contam com os corrompidos aliados nativos. Contam com os Moros e os Dalagnois da vida, que corromperam por dentro o estado democrático de direito. Contam com a mentalidade escravocrata de certa elite empresarial anti-nacional, com generais corruptos e com os grandes meios de comunicação, que nada mais fazem do que naturalizar a barbárie bolsonarista. 



6 comentários:

  1. Caro Professor,

    fiz várias tentativas também de explicar o fenômeno da barbárie brasileira. Não é tarefa fácil.
    Trocando experiências no profamilcarbernardi.blogspot.com

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  2. Obrigado pelo retorno prof Amílcar. Com certeza vou me tornar leitor do seu blog. Forte abraço.

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