quinta-feira, 17 de março de 2022

O Império do Engano na Ucrânia e a Artilharia das “Fake News”

Recentemente participamos de uma conversa transmitida pelas redes sociais com os nossos amigos Luiz Müller e do Brasil de Fato RS, sobre o conflito militar na Ucrânia. O mote do evento foi "O Assassinato da Verdade e a Guerra na Ucrânia". Há muito se sabe que a primeira vítima de uma guerra é a verdade. Para as populações que vivem no ocidente e em tempos de "fake News" isso é rigorosamente verdadeiro! As grandes redes de comunicação norte-americanas e europeias e suas repetidoras por essas bandas fazem da desinformação uma arma aniquiladora do pensamento crítico. É como se os corações e mentes dos cidadão fossem um campo de batalha da guerra moderna onde tudo é permitido - inclusive mentir deliberadamente - para traficar os interesses do império estadunidense e seus consortes. Em parte é essa a reflexão que fazemos em mais uma tentativa de contribuição do blog. Como havia me comprometido em divulgar é importante consultar fontes alternativas (além dos excelentes portais nacionais como Brasil de Fato, Brasil 247, etc) de informação como os sites RT en Español, Sputnik Brasil, Hispan TV, Global Times e Telesur . Para quem tem conta no Twitter é uma boa medida seguir o jornalista Pepe Escobar e o The Eurasianist. Há excelentes análises militares sobre o conflito em blogs como o Reminiscense of The Future, The Saker e Moon of Alabama.  


O Império do Engano na Ucrânia e a Artilharia das “Fake News”


| por Ilton Freitas


Nas “Guerras Híbridas” contemporâneas movidas pela descendente ordem unipolar representada pelo império estadunidense e seus sequazes da OTAN[1], o controle absoluto e totalitário da informação e da comunicação direcionada ao grande público, adquiriram em grau e em proporção um dos maiores e mais ambiciosos objetivos. Sobretudo para justificar os interesses geopolíticos e para naturalizar  a dominação e a espoliação dos povos pelo capital financeiro, através da agenda neoliberal e seus clepto-defensores. Nesse sentido os mecanismos ordinários de reprodução das ideologias das classes dominantes pelos “intelectuais tradicionais” e sua transmissão pelos meios de comunicações habituais (tvs, rádios, jornais) e pela internet, por óbvio que continuam a operar com a mesma intencionalidade. Ou seja, o texto, o subtexto, a imagem, o vídeo e outros expedientes nada mais fazem do que aludir a uma fração da realidade para gerar uma irrealidade, ou, se quisermos, uma falsa consciência.

 “Jornalisticamente” os mecanismos preferenciais de produção e de reprodução ideológica passaram a ser as “fake News” (notícias falsas) e as respectivas narrativas construídas e que circulam na velocidade das tecnologias da informação e da comunicação. A ideia é “gerenciar a percepção” dos amplos públicos, sobretudo no mundo ocidental. Na história recente do Brasil recordemos o que foi o “jornalismo de guerra” por ocasião do impeachment da presidente Dilma em 2016, e o “espetáculo” midiático degradante da prisão do ex-presidente Lula em 2018. Tudo em nome de “não acontecimentos” amplamente midiatizados, isto é, o inexistente crime de responsabilidade de Dilma, e a farsa processual lavajatista contra Lula. Portanto, os brasileiros com senso crítico possuem vivência suficiente para compreender os mecanismos de “gerenciamento de percepção”, a letalidade da máquina de propaganda midiática e a explosividade das “fake News” para desmontar um projeto de nação independente e próspera representados por Lula e Dilma. 
 
Pois bem, ampliemos para a escala global o tema da “guerra de propaganda” estadunidense e de seus aliados vassalos contra a Federação Russa, para abordar o conflito militar na Ucrânia. É preciso remarcar que nesse caso a produção industrial de “fake News” através da mídia corporativa ocidental (+ plataformas de internet) atingiu o zênite. É como se estivéssemos todos e todas que conviver diuturnamente com o padrão nazi de propaganda[2], isto é, a reiteração absurda de mentiras e falsidades em substituição à veracidade dos fatos e a pluralidade das versões. 

Evidentemente que não surpreende o caráter manipulador da “narrativa” anti-russa movida por redes como CNN, BBC, AP, Reuters e suas repetidoras na periferia do capitalismo como Globo, El Clarín e outras menos relevantes. Falsas narrativas vem de longe. Não custa lembrar que por ocasião da segunda guerra contra o Iraque em 2003, a grande imprensa ocidental martelou ad nauseam que Saddam Husseim escondia armas químicas de aniquilação em massa. O Iraque foi invadido pelo exército norte-americano, centenas de milhares perderam suas vidas, cidades foram arrasadas pelas bombas estadunidenses e mais adiante se admitiu que o Iraque não possuía as tais armas químicas. Mas o crime hediondo já havia sido perpetrado. Afeganistão e Líbia foram igualmente devastados com falsas acusações em 2002 e 2011, respectivamente. Tudo justificado pela mídia-empresa e por seus “jornalistas”. A partir de 2013, o alvo do pseudojornalismo foi a Síria e o demonizado da vez foi o seu presidente, Bashar al-Assad. E se quisermos compreender as raízes do lamentável conflito que hoje assola a Ucrânia, mais uma vez encontraremos a enganosa objetividade na cobertura dos eventos de fevereiro de 2014, que entronizaram no governo ucraniano os bandos neonazistas e ultranacionalistas, que desde então se valeram da violência institucional para massacrarem cidadãos russos e opositores ucranianos.  À par disso a região do Donbass, onde se localizam as repúblicas independentes de Donetsk e Lugansk foi severamente fustigada por artilharia e armamento pesado por oito anos, resultando em 14 mil mortes, a maioria de civis. Um verdadeiro massacre e genocídio que,  pasmem, não tiveram uma única menção na mídia-empresa e tampouco os governantes da Ucrânia (Poroschenko e depois Zelensky) foram denunciados como responsáveis, ou,  “ditadores sanguinários”! A regra foi a omissão e o silêncio por parte da “livre-imprensa” ocidental, das “democracias liberais” e por parte de certa intelectualidade corrompida moralmente até a medula, e que hoje pousa de pacifista e acusa o governo russo de ter “invadido” a Ucrânia.




Retornando ao tema da máquina de propaganda imperial e do “gerenciamento da percepção” pretendida junto ao público alvo ocidental. À guisa de demonstração do expediente das “fake News turbinadas, atentemos para uma das falsificações, ou, um dos “não acontecimentos” manipuladores mais sinistros veiculados pela mídia-empresa na Ucrânia nos últimos dias. Me refiro ao bombardeamento de uma maternidade pela “aviação russa” na cidade de Mariupol. Somente a referência, “bombardeio  a uma maternidade”, já provoca pavor e reprovação a qualquer pessoa decente. As imagens cuidadosamente editadas ao melhor estilo hollywoodiano  indubitavelmente geram comoção. No “set” um hospital em escombros, incubadoras destruídas e uma gestante envolta em cobertores ensanguentados se movendo com auxílio de soldados ucranianos. Outra gestante reaparece numa maca desfalecida. Detalhe aos incautos, análises mais acuradas sugerem se tratar da mesma pessoa, que coincidentemente foi reconhecida como uma modelo ucraniana usuária e performática em plataformas como Instagran e Tik Tok. Todavia, o envolvimento do exército ucraniano na preparação do que tudo indica ser uma farsa já havia sido devidamente denunciada por autoridades da Russia. Posto que o representante da Federação Russa no Conselho de Segurança na ONU[3], havia denunciado que frações militares nazi-ucranianas haviam se apossado da maternidade e expulsado médicos e enfermeiras no final de fevereiro. E pelo padrão dos escombros da maternidade é pouco crível a especialistas que ela tenha sido bombardeada pela aviação, o que lança suspeitas de que os disparos tenham sido efetivados pelas próprias milícias ucro-nazis.

É fato que do lamentável episódio narrado no parágrafo anterior nenhum juízo a priori pode ser definitivo. Somente uma investigação isenta e aceita pelas partes envolvidas no conflito teriam alguma possibilidade de elucidar tal monstruosidade. Contudo, nada disso interessa à mídia-empresa ocidental e os interesses por ela representados. No fundamental o que pretendem é criminalizar os russos e promover histeria belicista e irresponsável contra os governantes da Federação Russa. Não por acaso tal método em tudo se assemelha à pregação de ódio dos nazistas na Alemanha hitlerista contra os judeus, os comunistas e as "raças inferiores". Não há vestígio algum de jornalismo na grande mídia ocidental no que diz respeito à cobertura do conflito militar na Ucrânia, tampouco nenhum esforço para explicar ao grande público as razões e contrarrazões das partes litigantes. À rigor o que fazem os grandes veículos de informação é propaganda ideológica e apologia ao belicismo, ao imperialismo e ao fascismo ucraniano. 

Mas como o dito popular, nada é tão ruim que não possa piorar nesses conturbados tempos. Em parte complementando a histeria anti-russa da mídia ocidental, a empresa Meta, controladora de plataformas como Facebook e Instagram[4], a poucos dias permitiu que fossem veiculadas mensagens de ódio e de pregação de assassinato à liderança e aos invasores russos[5]. Por óbvio que embalaram sentimentos irracionais de aversão a uma etnia e alimentaram o ambiente belicista com russofobia, o que nessa altura do século XXI deveria provocar repugnância, fortes contestações e protestos de cidadãos contra seja quem for que avalize tais barbaridades . Há relatos de cancelamentos de eventos esportivos e culturais em países europeus por que seus protagonistas são russos! Uma universidade em Milão cancelou uma disciplina de literatura sobre Dostoiévski, sim, Dostoiévski, um dos maiores escritores da humanidade! Peças musicais de Tchaikovsky também foram proibidas? Obras de Kandinsky também? Sendo assim, me parece que não é muito difícil identificar qual o lado certo no conflito Rússia versus Ucrânia/OTAN.

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[1]A Organização do Tratado do Atlântico Norte, a  OTAN, é uma aliança militar criada em 1949 pelos EUA, com a justificativa de defender a Europa de uma agressão soviética. Mas de aliança defensiva não resta quase nada da OTAN.

[2]“Repetir mil vezes uma mentira, até tornar-se uma verdade”, sustentava Goebels, o ministro da propaganda de Adolf Hitler.





2 comentários:

  1. "Jornalismo de guerra" sem front de batalha nem armas letais é poderoso pois teleguiado pelo andar de cima, elites, rentistas, mercadológicos. E vai ser muito mais prejudicial à democracia neste ano eleitoral.

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