domingo, 18 de abril de 2021

As Lições da China no Combate à Pandemia, o Fracasso do Ocidente e a Aberração Brasileira

Analistas e historiadores do futuro lançarão luz sobre a quadra atual de pandemia que assola o planeta. Em particular as democracias liberal-oligárquicas da América do Norte e suas congêneres latino-americanas  merecerão atenção especial, mas não como casos edificantes, ao contrário! Os pesquisadores certamente asseverarão o retardo e o rotundo fracasso dos governos ocidentais em assistir as suas populações ante o flagelo da Covid-19, em comparação com os flamantes casos bem sucedidos nos países asiáticos, mormente a República Popular da China. O caso brasileiro é aberrante posto que por conta de um governo central genocida e seus aliados neoliberais se afigurará como estudo à parte, no capítulo das teratologias, isto é, das  deformidades, das monstruosidades. 



Nesta foto, na metade superior se vêem residentes de Wuhan fazendo testes de ácido nucléico em 15 de maio 
de 2020, em uma tenda de testes instalada na Escola Primária Wujiashan. A metade inferior, tirada em 
6 de abril de 2021, mostra alunos fazendo exercícios matinais no pátio da mesma escola. Foto: Xinhua
FONTE: Global Times (disponível em https://www.globaltimes.cn/page/202104/1220552.shtml)




As Lições da China no Combate à Pandemia, o Fracasso do Ocidente e a Aberração Brasileira


Se arbitrariamente dividirmos o planeta em dois setores, o setor A, dirigido por sua principal economia, os EUA, e sua respectiva área de influência, e o setor B, impulsionado pelo dinamismo de sua grande potencia econômica, a China, fica evidenciado de modo irrefutável a enorme diferença de abordagem no que diz respeito ao enfrentamento da pandemia. E se desejarmos reduzir a comparação entre os dois setores em consideração aos casos notificados de contágios e de óbitos nos EUA e na China, os números de contágios/mortes pela Covid-19 são vexaminosos e trágicos para a sede do império anglo-americano. De acordo com o portal da Universidade de Medicina, John Hopkins[1], os EUA registraram até 17/04/2021,  31.629.214 de casos e 566.905 óbitos. Por seu turno, a China tem registrado na mesma data 102.235 casos notificados e 4.845 óbitos. Num País como mais de 1,4 bilhões de habitantes! Registre-se que pelo ranking da John Hopkins o Brasil é o terceiro País em número de casos com 13.900.091 notificações, e o segundo em óbitos com 371.678 cidadãos que enlutaram seus entes queridos.
 
Porque números tão discrepantes entre China e EUA? São inúmeras as razões reveladoras dos anos-luz que dão aos chineses a primazia e a excelência no enfrentamento ao vírus mortal, em comparação com os EUA e com qualquer governo neoliberal do ocidente. Particularmente, chama atenção dois pontos; 1 - o aspecto histórico-cultural em combinação com, 2 – a liderança governamental e sua alta capacidade administrativa e de gestão para lidar com a pandemia.

Nada mais distante da realidade da China contemporânea do que a distorcida noção amplamente disseminada na mídia-empresa de que o PC (Partido Comunista) chinês dita arbitrariamente diretrizes de Pequim e que são automaticamente executadas num País continente e densamente povoado (sic). 

Em janeiro de 2020, por ocasião do surto de Covid-19, na cidade de  Wuhan, importante centro de distribuição e de logística do País, com pouco mais de 10 milhões de habitantes (equivalente a cidade de São Paulo), uma dimensão pouco evidenciada e mesmo ausente nos relatos da grande imprensa sobre como os chineses enfrentaram a crise sanitária, diz respeito a auto-organização popular no auxílio e na execução das medidas restritivas, incluído o lockdown de setenta (dias), recomendado pelo governo central e apoiado pelas autoridades locais. Em cada bairro, em cada quarteirão da cidade de Wuhan foram organizadas e mobilizadas células e comitês de cidadãos para atender os respectivos moradores nos mínimos detalhes em virtude da situação de confinamento. Desde a entrega organizada da alimentação e de serviços até o necessário controle sanitário para a realização das testagens, rastreamentos e medidas profiláticas. 

A auto-organização popular foi e é seguramente um trunfo do gigante asiático para o enfrentamento da pandemia. Por certo que as tradições coletivistas da região pesaram e pesam num contexto de ameaça sanitária. Mas isso também pode ser atribuído à edificação da mentalidade socialista do País, cujo ponto de inflexão nos remete a revolução chinesa de 1949, liderada pelo Partido Comunista e por seus proeminentes dirigentes, dentre eles Mao Tsé Tung.

Por seu turno, a capacidade de auto-organização do povo chinês tem o suporte e o apoio político e administrativo do Estado e de suas lideranças. Trata-se de via de duas mãos o que, por outro lado,  atesta a alta taxa de confiança da população no seu governo[2]. Logo que constatado o surto de Covid-19 nos primeiros dias de janeiro de 2020, à diferença dos governos ocidentais, o presidente chinês Xi Jinping exortou a população para o enfrentamento à pandemia recorrendo ao conceito de “guerra popular” em defesa da nação. Resultou disso o surgimento de 400 mil  voluntários (boa parte da área da saúde) de todos os rincões do País e das mais variadas profissões para se somar ao esforço do governo no enfrentamento ao vírus em Wuhan. E o que se viu a partir daí foi uma verdadeira demonstração de competência gerencial para lidar com a situação. Nos primórdios da pandemia, a partir de 23/01/2020, em aproximadamente dez (10) dias, contando com 4 mil trabalhadores se revezando em três turnos, foi erguido um hospital de campanha de 25 mil metros quadrados, com 1.000 leitos para o recebimento de casos de coronavírus. Outra estrutura semelhante foi erguida em poucos dias com mais 1.500 leitos[3].  Paralelamente se iniciou um processo massivo de testagens da população tendo em vista o isolamento de novos casos. Combinado com a testagem foram empregados os mais modernos recursos tecnológicos e de comunicação para o rastreamento de cidadãos que interagiram com pessoas infectadas, ou, suspeitas de infecção. E obviamente todo esse verdadeiro esforço de guerra não poderia deixar de lançar mão de um rígido lockdown de setenta (70) dias, onde se restringiu a circulação das pessoas ao mínimo necessário, fechamento do espaço aéreo e de rodovias. 

À par da auto-organização popular e das medidas restritivas seguidas e apoiadas pelos residentes em Wuhan, o governo chinês atuou fortemente para reconverter a atividade industrial da região, para atender primeiramente o seu povo. Sendo assim em alguns casos empresas fabricantes de peças e motores da indústria automotiva foram reconvertidas para a fabricação de equipamentos indispensáveis aos hospitais e as unidades ad hoc construídas para atender os doentes e os casos mais graves da doença[4]. A forte intervenção do estado chinês evidenciando como a prioridade das prioridades a saúde da população, lançando mão de medidas restritivas que resultaram na queda dos contágios, internações e óbitos, seguida da abertura gradual das atividades econômicas, contrasta com a falsa discussão que ainda se faz por estas paragens; “de que não se pode quebrar a atividade econômica”. Não há contradição alguma entre priorizar a saúde da população e a atividade econômica. Ao contrário, o que o governo e o povo chinês ensinaram é que num contexto de grave crise sanitária faz-se necessário um esforço de guerra de toda a sociedade para debelar ou minimizar o impacto do inimigo invisível. Posto que ao se adotar medidas restritivas como o lockdown, se impede a circulação do vírus e consequentemente dos contágios. Por via reflexa se evita o risco do colapso dos sistemas públicos de saúde. Desse modo se logra no menor prazo possível o retorno paulatino das atividades econômicas em todas as áreas. Outrossim, o governo chinês ensinou que na inevitabilidade de um lockdown o Estado deve atuar decididamente para suportar e conceder  - por um período limitado - todo e qualquer auxílio financeiro aos trabalhadores e as empresas temporariamente impedidas de funcionamento pleno.

Por certo que as imunizações massivas constituem no momento a principal estratégia de saúde coletiva e de prevenção contra a doença viral. Isso vale para qualquer País, desde aqueles que melhor enfrentaram a crise sanitária até aqueles que fracassaram miseravelmente. E nesse ponto a abordagem da pandemia, a gestão sanitária e a implementação das imunizações realizadas pela China demonstram superioridade de propósitos e se constituem em referencia para todo planeta. Vide o conceito defendido pela liderança chinesa de que as vacinas “são um bem público mundial”[5]. Quanto contraste em relação ao panorama no ocidente, onde as BigPharmas (grandes laboratórios) sempre dispostas a faturar para o gáudio de seus acionistas, foi incapaz de juntar esforços de um lado ao outro do Atlântico para a realização de pesquisas conjuntas, tendo em vista a abreviação do tempo necessário para a descoberta de imunizantes que evitassem mais óbitos e contágios. Sem falar na absoluta falta de iniciativa em estender auxílio aos países mais pobres e em desenvolvimento. 

Por seu turno, importa remarcar que se a China é uma referência e um modelo bem sucedido no enfrentamento à pandemia em contraste com o império anglo-americano e associados, o caso brasileiro deverá entrar para a história como uma variante de genocídio  governamental, e/ou, na melhor das hipóteses, como o pior modelo planetário de manejo de uma pandemia. A rigor a situação pandêmica no Brasil já é considerada uma das ameaças globais. Não é exagero descrever a situação como um laboratório a céu aberto para a observação da dinâmica de um vírus descontrolado, que produz novas variantes mais contagiosas num ambiente favorável a sua reprodução. 

Contudo, se já está claro que o bolsonarismo e seus representantes em Brasília são agentes do genocídio de um povo, é mister remarcar que seus aliados neoliberais, que governam estados e municípios importantes, não estão isentos de responsabilidades. Tomemos por um instante o estado do Rio Grande do Sul (RS), considerado atualmente como epicentro da pandemia no País. Na edição do Correio do Povo de 17/04/2020, pp.11,  o RS possui 915.558 casos notificados de Covid-19, com 22.977 óbitos. A capital Porto Alegre responde por 138.547 casos e 4.087 óbitos. São números reveladores do mais absoluto fracasso governamental no enfrentamento da pandemia. 

O governo RS vendeu para a opinião pública uma pseudo-gestão sanitária com suas “bandeiras” multicoloridas, que nada mais medem do que o caos nos hospitais saturados de casos e da disponibilidade de leitos nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs). À par disso o governo Leite foi incapaz de resistir a pressão irresponsável das associações empresariais por abertura indiscriminada da atividade econômica. Desse modo se sucede uma série infindável de abre-fecha do comércio e dos serviços, que é uma prática condenável em qualquer país que maneja com um mínimo de responsabilidade uma situação pandêmica. Portanto, não há como não imputar o fracasso retumbante no enfrentamento à pandemia ao governo regional e a certas “elites” empresariais. E como não bastasse a gestão desastrosa se aproveitam da perplexidade e comoção da população pelo risco de contágio e de mortes, para executar a agenda de destruição do patrimônio do povo com a privatização de empresas públicas rentáveis e estratégicas para o desenvolvimento econômico. Nesse sentido o vírus para bolsonaristas e neoliberais não deixa de ser um ‘aliado” para a consecução de objetivos tão torpes, como a alienação de empresas públicas em prol da concentração de riqueza no setor privado, que só se interessa por lucros e pela satisfação de seus acionistas. O prefeito insano e desqualificado de Porto Alegre chegou a insinuar que vidas deveriam ser sacrificadas em nome da economia[6]. 

Sendo assim, os genocidas de Brasília e seus aliados neoliberais regionais são irmãos siameses, posto que a agenda econômica destrutiva do futuro da população é a mesma. São adoradores do deus mercado e a pandemia os auxilia a sacrificar o patrimônio público no altar do capital privado. Jamais entenderão que as forças do mercado devem se submeter a uma estratégia de desenvolvimento da nação, da região e da sociedade. Foi o  que fez a China e seu governo, e isso explica não só a sua pujança econômica, mas também como foi relativamente facilitada a tarefa de priorizar o bem comum numa situação pandêmica, isto é , o bem estar e a saúde do povo acima de tudo!           


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4 comentários:

  1. Muito bom, Ilton! Concentração de renda não rima com nenhum bem estar social/público. Muito menos saúde.

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  2. Primeiramente, boa noite ;
    Segundo, concordo com tudo que fora dito em relação a forma criminosa que o governo brasileiro tem lidado com a pandemia. Num país de exímio respeito às leis constitucionais, Bolsonaro já estaria na cadeia a tempos !!
    Terceiro ; não somente a China, mas os demais países asiáticos lidaram de melhor forma com a pandemia em comparação ao Ocidente. basta ver os números de Taiwan, Japão e Coréia do Sul, por exemplo. Agora vem a crítica : usar a China como o "grande exemplo mundial", além de ser equivocado, devido às restrições informativas vindas de lá, acaba revelando o ranço saudosista da existência do muro de Berlim que boa parte da esquerda brasileira ainda carrega consigo. Fenômeno do bolsonarismo não é algo surgido somente de 2013 pra cá.
    Abs !!!

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    1. Obrigado Leonardo, críticas são sempre bem vindas e a meu juízo enriquecem o debate. Oportunamente vou retomar o debate sobre a China. Para adiantar meu ponto de vista entendo que há um prejuízo muito grande em debater China no ocidente, em virtude da forma distorcida com que a grande imprensa pauta o assunto. Via de regra as notícias remarcam aspectos negativos, alguns existentes, outros, não. Contudo, grato pelas tuas considerações.

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