sexta-feira, 25 de maio de 2018

Eleições na Venezuela: A Guerra da Informação Contra Maduro

As eleições da Venezuela e a reeleição do presidente Nicolás Maduro, no último domingo, 20/05, atiçam o “jornalismo de guerra” contra os governos populares em tempos de Guerra Híbrida[1]. A sabujice da grande imprensa aos interesses do governo norte-americano na América Latina é tanta, que não hesitam em lançar mão da produção e reprodução industrial de falsas notícias, ou mentiras. Sendo assim, a grande mídia ” suscita mais uma campanha de desinformação contra o governo e povo venezuelanos. 







Eleições na Venezuela: A Guerra da Informação Contra Maduro


No Brasil, capitaneados pela Rede Globo, seus veículos e suas retransmissoras, os jornalistas com “complexo de vira-latas”, ou, assumidamente “direitosos” repetem ad nauseum o mantra imposto por seus patrões de que as eleições na Venezuela não foram legítimas por conta da grande abstenção, de supostas fraudes no processo eleitoral e que líderes da oposição “democrática” estão encarcerados. Por justiça diga-se de passagem, que alguns jornalistas que pousam de “progressistas” e de “independentes” – por pressão, ou, seja lá o que for – endossam tais inverdades, ou, como está em voga, os “fake news”. A mídia divulga com grande estardalhaço as declarações do “Grupo de Lima[2]”, que não reconhecem a eleição de Maduro e defendem um novo processo eleitoral. Além disso emolduram em caixa alta os anúncios do governo Trump de novas sanções econômicas contra o governo bolivariano. 

Vamos por partes. Recordemos que na Venezuela o voto é facultativo e Maduro foi reeleito num pleito que contou com a participação de 46% (quarenta e seis) dos votantes, e com uma abstenção de 54% (cinquenta e quatro) de eleitores. Do total de participantes do processo eleitoral o mandatário reeleito obteve 68% (sessenta e oito) dos votos, contra 21% (vinte e um) do oposicionista Henri Falcón, que também contestou sem apresentar nenhuma prova a legitimidade do pleito. Mas de fato a abstenção eleitoral na Venezuela foi alta, como é alta em muitos países europeus e na America do Norte. Na França, o banqueiro Macron foi eleito com uma abstenção eleitoral recorde. Um quarto do eleitorado francês se absteve nas eleições majoritárias, e 60% (sessenta) se abstiveram nas eleições para a Assembléia Nacional. Trump se elegeu com uma alta abstenção, em torno de 54% (cinquenta e quatro), ou seja, 121 milhões de cidadãos norte-americanos se abstiveram de votar. Mas que tal compararmos com a abstenção eleitoral no Chile, que é mais próximo da realidade venezuelana e o voto também não é compulsório. No primeiro turno das eleições participaram 46% (quarenta e seis) do eleitorado chileno, isto é, a abstenção eleitoral bateu na casa dos 54% (cinquenta e quatro) pontos percentuais. Sebastián Piñera – o candidato da direita – foi eleito posteriormente no segundo turno em dezembro de 2017. Não me recordo de grandes campanhas midiáticas denunciando a falta de legitimidade – por conta da abstenção eleitoral semelhante à Venezuela - da vitória de Piñera. Seria por que o Chile não tem petróleo e a Venezuela possui a maior reserva de óleo do mundo?

Outra linha de argumentação contra a democracia venezuelana[3] é de que as eleições foram fraudadas e os líderes da oposição encarcerados.. Em 2012, na terceira reeleição do presidente Hugo Chávez - como de praxe -  o processo eleitoral contou com a fiscalização de observadores internacionais. Dentre eles, o ex-presidente norte-americano, Jimmy Carter e sua fundação. Carter nunca nutriu nenhuma simpatia pelo chavismo, pelo contrário. Mas admitiu que as eleições na Venezuela eram as “mais limpas do mundo”![4] Por seu turno a oposição de direita na Venezuela, reunida no MUD (Mesa de la Unidad Democratica) tentou boicotar o atual pleito, como o fizera em 2006, na primeira reeleição do presidente H Chavez. Dessa vez, no entanto, a direita não logrou a unidade e o setor representado por Falcon participou do processo. O que é evidente na Venezuela é que a oposição de direita, que já deu demonstrações de abandono das disputas eleitorais democráticas, reconheceu que não tem votos para enfrentar nas urnas o projeto bolivariano. Desse modo requentam denúncias nunca provadas de fraude eleitoral. Foram mais de cem (100) observadores internacionais que fiscalizaram as últimas eleições, e não há registros de petições envolvendo denúncias de fraude ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do País, que é um órgão público e não estatal de controle e de fiscalização das eleições. 

Quanto ao encarceramento de “líderes” da oposição venezuelana é importante que se diga que como qualquer País, que mereça a adjetivação,   democrático, as instituições do Estado cultivam o saudável hábito de respeitar a lei e de denunciar, processar e encarcerar os golpistas e os promotores de violência contra a Constituição, o povo e seu patrimônio. Dentre os golpistas mais conhecidos como o ex-prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, e o ex-candidato presidencial, Leopoldo Lopez, que não estão presos por “crimes de consciência”, recaíram pesadas acusações, que foram devidamente comprovadas pelas autoridades. Entre 2013 e 2016, foram assassinadas quarenta e seis (pessoas), a maioria eram militantes chavistas. Lopez e Ledesma estiveram envolvidos direta e indiretamente na promoção de ações violentas, atentados e incêndios de prédios governamentais e públicos, inclusive hospitais. Ademais ambos foram acusados e condenados por associação com grupos de extermínio colombianos, que financiaram uma série de ações violentas de rua, as chamadas “guarimbas”. Portanto, caracterizar Ledezma e Lopez como presos políticos como faz a imprensa brasileira, é desinformar o público em geral e desconhecer a realidade de uma direita golpista que não tem, de fato, qualquer compromisso com a democracia, e aposta sistematicamente na violência como arma política preferencial.

Por seu turno, o aludido Grupo de Lima, que reúne os ministros de relações exteriores de países latino-americanos mais o Canadá,  não hesitaram em repetir caninamente que as eleições venezuelanas foram fraudadas. Seria cômico não fosse trágico que o governo brasileiro respalde o Grupo de Lima. Qual a moral que o governo mafioso de Temer - que resultou de um golpe contra a soberania popular em 2016 -  têm para tecer críticas às eleições venezuelanas? Qual a moral do demagogo presidente argentino Macri - que preside um governo de janotas que possuem contas em paraísos fiscais - possui para lançar suspeitas sobre a reeleição de Maduro? O que autoriza o presidente mexicano, Peña Nieto, que foi alçado ao governo a partir de um processo eleitoral corrompido pelo narco-tráfico, lançar dúvidas sobre a legitimidade do pleito venezuelano? Aliás, nos últimos dez anos no México foram assassinadas mais de 170 mil pessoas, uma verdadeira tragédia sem que os governos neoliberais  do PAN e PRI, investigassem satisfatoriamente esse genocídio. O que os governos de países como Paraguai e Honduras, que golpearam os presidentes Lugo (2011) e Zelaya (2009) tem a dizer sobre a “ilegitimidade” das eleições venezuelanas? Rigorosamente nada! O “Grupo de Lima” nada mais representa do que as velhas oligarquias associadas aos interesses dos EUA em nossa região!

Cumpre destacar que as sanções econômicas anunciadas pela administração Trump contra a Venezuela, fazem parte da “guerra econômica” cujo o objetivo é promover a desestabilização permanente do País. Sem falar dos especuladores internos que promovem a carestia e se locupletam com os altos preços das mercadorias (inclusive as básicas) de consumo popular. Mas é importante remarcar que a interdição do comércio internacional regular e o congelamento de fundos do governo venezuelano de parte de órgãos do governo norte-americano, constituem estratégias que obram garrotear o País, e dobrar a resistência do governo e população. A canalhice dos porta-vozes da grande mídia consiste, dentre outras coisas, em omitir que o grande responsável pelas dificuldades econômicas da Venezuela é o embargo econômico promovido pelos sucessivos governos norte-americanos. Contudo, isso não elide os equívocos na gestão econômica do chavismo, que manteve a subordinação e dependência do País à cotação do óleo cru, e a passos lentos vem promovendo a diversificação da matriz produtiva da economia. 

Por fim, importa remarcar que o que está em jogo verdadeiramente na Venezuela é a soberania da nação e a democracia! Soberania que pode ser expressa através do controle dos recursos naturais, sobretudo o petróleo, e mais a manutenção do jogo democrático como forma de resolução pacífica de conflitos. A disjuntiva consiste em manter o atual rumo e orientação iniciada pelo presidente Hugo Chavez e seu sucessor Nicolás Maduro, isto é, a renda do petróleo deve ser redistribuída ao povo venezuelano. Ou, a exemplo do que fizeram no Brasil, fazer o País retroceder a mera condição de colônia e de vassalo dos interesses geopolíticos norte-americanos! 

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[1] Sobre Guerra Híbrida escrevi a respeito em http://iltonfreitas.blogspot.com.br/2018/02/guerra-hibrida-contra-o-brasil-o.html N.A.

[2] O “Grupo de Lima” é uma organização multilateral formada pelos Ministros das Relações Exteriores de países alinhados com os interesses do governo norte-americano na América Latina. Expressa a subordinação das oligarquias regionais aos ditames dos EUA. N.A.

[3] Sim, a Venezuela é uma democracia. De 1999 para cá já ocorreram vinte e três (23) eleições na Venezuela. Em todos níveis e poderes. Eleições presidenciais, provinciais e municipais, para os respectivos executivos e legislativos. N.A.

[4] Vide (https://actualidad.rt.com/actualidad/view/54145-jimmy-carter-sistema-electoral-venezolano-mejor-mundo)

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